“Acho que fiz merda.”
A frase dita por Paulo Gonet, Procurador-Geral da República, durante uma sessão do Supremo Tribunal Federal, ultrapassa a barreira da informalidade institucional. É, na verdade, um símbolo da rendição política da PGR ao jogo de interesses que domina os bastidores do poder em Brasília.
Gonet assumiu o cargo com o apoio decisivo do STF — em especial de Gilmar Mendes, com quem tem vínculos públicos e notórios. Desde o início, sua nomeação foi lida nos meios políticos como uma escolha segura para a Corte, não para a sociedade.
O episódio da frase infeliz, mais do que um lapso, foi uma confissão: a Procuradoria-Geral da República já não atua como fiscal da lei, mas como coadjuvante num enredo montado entre os tribunais superiores e o Planalto.
A demora e o teor seletivo de suas denúncias — especialmente no caso Bolsonaro — revelaram um procurador que operava sob encomenda, dosando timing e retórica conforme o termômetro político, não jurídico. Isso se reflete na falta de firmeza em enfrentar abusos institucionais e na ausência de ações contra arbitrariedades vindas do próprio Supremo.
Gonet era apenas tímido. Ele era funcional. Funcional ao projeto de dominação institucional em curso no país, no qual o Ministério Público, o Judiciário e setores da imprensa militante trabalharam em sinergia para eliminar adversários políticos, sufocar a oposição e normalizar a exceção.
A credibilidade do Ministério Público Federal não está ameaçada por uma frase mal colocada, mas por um padrão de submissão institucional que muitas das vezes vemos nos dias tuais.
Quando o chefe do MPF precisa “achar” se fez “merda”, o problema é que ele já perdeu o senso da própria função. O Brasil precisa de um Procurador-Geral que encare o poder, e que não faça parte dele. Gonet, ao que tudo indica, foi indicado para integrar o elenco do teatro — e não para escrever o roteiro da justiça.