ACONTECENDO NO ESPÍRITO SANTO

segunda-feira, 14 de julho de 2025

ACONTECENDO NO ESPÍRITO SANTO

segunda-feira, 14 de julho de 2025

Encontros com a nova política progressista

Há pouco mais de dois meses, participei de um evento sobre empreendedorismo negro no centro de São Paulo. Durante as conversas, conheci a deputada federal Tabata Amaral. Jovem e articulada, Tabata transmitiu um desejo genuíno de transformação social, embora as estruturas do sistema político brasileiro sejam resistentes a mudanças.

O encontro com Tabata foi participativo. Ao abrir o debate, compartilhei uma análise sobre as eleições municipais de 2024, destacando a derrota do progressismo em várias cidades, especialmente em São Paulo. Atribuí parte dessa derrota à dificuldade histórica de estabelecer uma relação sólida com os 40% da população negra na cidade.

Ciente da complexidade para conquistar a confiança das populações periféricas, fui objetivo: sem organismos de base liderados por negros e periféricos, qualquer projeto político será fadado ao fracasso diante da força conservadora. Esperava uma resposta mais aberta, mas Tabata se posicionou defensivamente, argumentando que poderia ser cobrada pelos projetos que havia aprovado. Sua postura revelou como a política, mesmo bem-intencionada, pode estar presa a uma lógica institucional que dificulta a escuta das vozes fora do poder.

Após esse primeiro encontro, senti uma ambivalência; admirei a trajetória de Tabata, mas percebi a distância entre sua mensagem de renovação e as práticas que mantêm as estruturas tradicionais.

O segundo encontro foi com o prefeito do Recife, João Campos, na Fundação Fernando Henrique Cardoso. João, filho de uma linhagem política poderosa, representa uma política “modernizada”: jovem, carismático e alinhado a uma visão tecnocrática. Ele apresentou seu mandato com orgulho, destacando suas reeleições e a imagem de um gestor eficiente.

No entanto, ao abordar pautas identitárias, João expressou uma visão limitada, afirmando que essas questões atrapalham o desenvolvimento socioeconômico. Essa crítica às pautas ignora a desigualdade racial no Brasil, aproximando-se de um universalismo que não reconhece as diferenças estruturais que afetam milhões.

Além disso, ao afirmar que a transformação dessas pautas depende de seus defensores ocuparem cargos de poder, João desconsidera a assimetria do sistema político, que exclui vozes diversas. A democracia representativa, nesse contexto, limita a participação de mulheres, negros, indígenas e trabalhadores periféricos.

Enquanto Tabata buscava equilibrar idealismo e a realidade do parlamento, João parece ter abandonado o idealismo em favor da gestão eficiente. Embora essa abordagem tenha seus méritos, surge a pergunta: de que adianta eficiência se não visa transformar as estruturas sociais que perpetuam desigualdades?

Ambos os encontros levantaram a mesma inquietação: a política, idealizada como uma ferramenta de transformação coletiva, parecia se restringir à adaptação individual. Tanto Tabata quanto João, jovens e comprometidos, reproduzem uma dinâmica onde a aposta na mudança estrutural é ofuscada pela gestão de danos.

Em um país marcado por injustiças históricas, devemos nos contentar em apenas administrar o presente? É necessário, ainda que em minoria, continuar a construir organismos de base e formar lideranças que possam não apenas participar, mas também renovar as bases da democracia brasileira.

Saí desses dois encontros sem respostas definitivas, mas com a convicção de que a crítica deve permanecer viva. Como Paulo Freire disse, “se a educação sozinha não transforma a sociedade, tampouco a sociedade muda sem ela”. O mesmo se aplica à política: sem uma base sólida e um povo organizado, as promessas de renovação não passarão de mais uma história antiga contada com novos rostos.


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