ACONTECENDO NO ESPÍRITO SANTO

terça-feira, 15 de julho de 2025

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terça-feira, 15 de julho de 2025

Os dez chefões do crime organizado foragidos da Justiça no Rio

Líderes do tráfico e da milícia que, mesmo escondidos, comandam territórios, impõem medo e movimentam milhões em dinheiro

Via Agenda do Poder

Em diferentes pontos do Rio, o poder não está com o Estado. Em vielas, becos e comunidades inteiras, quem dita as regras são homens escondidos, alguns há anos. São líderes do tráfico e da milícia que, mesmo foragidos, comandam territórios, impõem medo e movimentam milhões em dinheiro.

Esta reportagem traça o perfil de dez deles: os chefes que desafiam a polícia, controlam favelas e se tornaram símbolos do poder paralelo na cidade.

1. Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão

Peixão construiu um império criminal a partir de estratégias agressivas | Reprodução

Alçado ao topo do Terceiro Comando Puro (TCP), Álvaro Malaquias Santa Rosa, mais conhecido como Peixão, é hoje uma das figuras mais temidas e procuradas do submundo do Rio de Janeiro. Mesmo sem jamais ter sido capturado, sua presença se impõe por meio da violência, da fé distorcida e do controle absoluto sobre áreas inteiras da Zona Norte da capital.

Há mais de uma década na mira das forças de segurança — Polícia Civil, Militar e Federal —, Peixão construiu um império criminal a partir de estratégias agressivas, expulsando o Comando Vermelho (CV) de territórios chave. Essa campanha resultou no que ficou conhecido como o Complexo de Israel, um conglomerado de favelas formado por Vigário Geral, Parada de Lucas, Cidade Alta, Pica-Pau e Cinco Bocas, onde símbolos como a Estrela de Davi e a bandeira de Israel passaram a decorar vielas e muros.

A ficha criminal de Peixão é extensa. Ele acumula cerca de 50 ocorrências e responde por aproximadamente 20 mandados de prisão — por crimes que incluem tráfico de drogas, homicídio, ocultação de cadáver, tortura e assaltos. Nos últimos meses, passou também a ser investigado por suspeitas de terrorismo.

O líder do TCP também é acusado de praticar atos de intolerância religiosa nas comunidades sob seu domínio. Relatos apontam que ele teria ordenado a destruição de terreiros, proibido moradores de usar roupas brancas e vetado celebrações juninas em igrejas católicas da região.

Peixão comanda um aparato bélico de alto calibre. Segundo investigações recentes da Polícia Federal, o grupo sob seu comando tem acesso a fuzis, explosivos, munições em larga escala e até sistemas anti-drone. Grande parte desse arsenal estaria sendo importado do exterior ilegalmente e entregue por empresas de transporte convencionais e pelos Correios.

2 – Edgar Alves de Andrade, o Doca

Doca, ou Urso, como também é conhecido | Reprodução

Com base na Vila Cruzeiro, na Zona Norte do Rio, Edgar Alves de Andrade, o Doca — ou Urso, como também é conhecido — comanda uma das frentes mais violentas do Comando Vermelho (CV). Seu território é populoso: cerca de 70 mil moradores vivem sob o domínio de suas ordens.

Natural da Paraíba, Doca cresceu no Rio e se enraizou na criminalidade local. Quando o cerco policial apertou na Vila Cruzeiro, buscou refúgio no Morro do São Simão, em Queimados, na Baixada Fluminense. Segundo investigações, teria retornado discretamente ao seu reduto de origem durante o auge da pandemia de Covid-19, em 2020.

À frente da Tropa do Urso, ele liderou operações de invasão em mais de 40 favelas nos últimos três anos. O grupo é apontado como responsável por ataques coordenados, geralmente seguidos de confrontos intensos e violentos.

Desde 2003, seu nome aparece em mais de 329 inquéritos, que incluem tráfico, desaparecimentos, execuções e assassinatos. A polícia o vincula diretamente a pelo menos 112 mortes.

Entre os casos mais recentes está o desaparecimento de três meninos em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, em 2020. Eles teriam sido mortos por traficantes e, após a repercussão do crime, Doca ordenou a execução dos próprios subordinados responsáveis pela morte das crianças.

Outro episódio que é ligado ao chefão ocorreu em outubro de 2023, quando três médicos foram assassinados em um quiosque na Barra da Tijuca. O crime foi cometido por traficantes ligados a Doca, que confundiram os profissionais com milicianos. O erro não foi perdoado: os quatro foram mortos por ordem direta de Doca, e seus corpos deixados dentro de um carro na Zona Oeste.

Segundo a polícia, Doca não apenas autoriza execuções dentro das comunidades que controla, ele exige que sejam feitas com requintes de crueldade.

3 – Leandro Nunes Botelho, o Scooby-Doo

Leandro foi preso entre 2004 e 2008, ganhou liberdade condicional | Reprodução

Leandro Nunes Botelho, conhecido como Scooby-Doo, é uma das figuras centrais do Terceiro Comando Puro (TCP) que chefia o Morro dos Macacos, na Zona Norte do Rio. Scooby é citado em ao menos 15 processos e tem contra si 11 mandados de prisão, por crimes como tráfico de drogas, homicídio, sequestro e cárcere privado.

Preso entre 2004 e 2008, ganhou liberdade condicional, mas nunca deixou de ser o cérebro por trás das operações no Morro dos Macacos. Discreto, evita aparecer publicamente e, segundo a polícia, comanda de longe, movendo suas peças na guerra pelo controle da localidade.

Nos últimos anos, Scooby tem enfrentado o avanço do Comando Vermelho (CV), que tenta retomar o controle do Morro dos Macacos. O conflito se intensificou em 2024, com ataques violentos e tiroteios em áreas públicas. Um dos episódios mais brutais aconteceu em 4 de maio do ano passado, quando rivais do CV abriram fogo contra um aliado de Scooby na Praça Barão de Drummond, em Vila Isabel. A ação deixou cinco mortos, quatro eram inocentes.

Relatórios da inteligência da Polícia Militar revelaram que o grupo comandado por Scooby está usando redes sociais para adquirir armas e munições, com entrega feita por motoboys.

4 – Paulo David Guimarães Ferraz da Silva, o Naval

Naval assumiu o posto de líder de uma das milícias mais poderosas da cidade | Reprodução

Paulo David Guimarães Ferraz da Silva, conhecido como Naval, assumiu o posto de líder de uma das milícias mais poderosas da cidade, a do Zinho. O grupo paramilitar atua em Antares, Aço, Rola, Vila Carioca e Barbante, comunidades na Zona Oeste onde o controle é exercido na base da ameaça, extorsão e coerção silenciosa.

Naval chegou ao topo após a morte de Rui Paulo Gonçalves Estevão, o Pipito, abatido em confronto com a polícia em junho do ano passado. Pipito era o sucessor natural de Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, que se entregou à Polícia Federal no fim de 2023.

Seu apelido vem da passagem pelas Forças Armadas, experiência que, segundo a polícia, ele usa a favor do grupo como especialista em armamento e logística de guerra. De acordo com investigações da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), Naval já exercia influência nos negócios da milícia na Favela do Barbante, em Campo Grande, quando foi autorizado por outros líderes a expandir seu domínio.

Mas, ao contrário de seus antecessores, o ex-fuzileiro prefere comandar à distância. Ele teria entregado as favelas de Antares e do Aço a homens de sua confiança. Em troca, recebe uma porcentagem sobre os lucros gerados pelas atividades ilegais, como a cobrança de ‘taxas de segurança’ de comerciantes, extorsão de motoristas de vans e kombis, e venda clandestina de TV por assinatura.

Naval era homem de confiança dos irmãos Braga: Carlinhos Três Pontes e Wellington da Silva Braga, o Ecko, ambos mortos em confrontos com a polícia em 2017 e 2021, respectivamente.

Ele é investigado por envolvimento na execução de Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho, ex-vereador e cofundador da Liga da Justiça, grupo paramilitar que deu origem ao atual Bonde do Zinho.

5 – Wilton Carlos Rabello Quintanilha, o Abelha

Abelha, membro do conselho da facção | Reprodução

Nome de peso dentro do Comando Vermelho (CV), Wilton Carlos Rabello Quintanilha, conhecido como Abelha, é membro do conselho da facção e articulador de mudanças na lógica de atuação do grupo nas favelas do Rio. Seu reduto é o Complexo da Penha, na Zona Norte, onde opera de forma discreta e calculada.

Em julho de 2021, Abelha saiu pela porta da frente do Complexo de Bangu, mesmo com um mandado de prisão em aberto.

Instalado na Penha desde então, ele impôs um código de conduta às comunidades sob influência do CV na região: traficar, mas não roubar. A diretriz seria uma forma de evitar confrontos desnecessários e manter o lucro sem chamar atenção da polícia.

Em março, a Polícia Civil descobriu e desativou um bunker do tráfico ligado ao traficante no bairro da Lapa, no Centro do Rio. O esconderijo funcionava em um casarão abandonado e era usado para a venda de drogas. Ali, os policiais encontraram portas de aço com mais de 300 kg, incluindo uma estrutura com passagem de fuga que permitia aos criminosos trancar a saída por fora.

6 – Wallace Brito Trindade, o Lacoste

Lacoste chefia o Complexo da Serrinha | Reprodução

Wallace Brito Trindade, conhecido como Lacoste, é o principal nome do Terceiro Comando Puro (TCP) no Complexo da Serrinha, em Madureira. A região, formada pelas comunidades da Serrinha, Fazenda, Patolinha, São José e Dendezinho, vive sob o domínio do criminoso há anos.

Apesar do sigilo em torno de sua rotina, Lacoste foi alvo de uma operação da Polícia Civil em 2019, que revelou parte do seu estilo de vida. Agentes localizaram uma residência do traficante no alto da Serrinha: casa com piscina, área gourmet, terraço com vista panorâmica e muros grafitados com imagens de jogadores do Flamengo.

Em 2021, o nome de Lacoste voltou ao radar da polícia com a descoberta de um plano de expansão territorial. O projeto, ainda em fase inicial, pretendia anexar ao domínio da Serrinha comunidades vizinhas, então controladas pelo Comando Vermelho (CV), como os morros da Congonha, Cajueiro e Vaz Lobo.

A ideia era formar uma nova área estratégica do TCP, batizada de Complexo de Jerusalém, numa alusão ao já consolidado Complexo de Israel, reduto comandado por Peixão. No entanto, o plano não foi adiante.

De acordo com as investigações, uma das suas táticas de conquista é cooptar rivais: traficantes do CV são abordados com propostas de trocar de lado mediante promessas de maior fatia nos lucros do tráfico.

7 – Luiz Carlos Bandera Rodrigues, o Zeus

Zeus se instalou na Muzema e expulsou a milícia | Reprodução

Luiz Carlos Bandeira Rodrigues, conhecido como Zeus, é o primeiro traficante de fora do Rio a conquistar o comando de uma favela carioca. Natural de Rondônia, ele comandou o tráfico em Vilhena em 2015, quando foi preso. No presídio federal em Porto Velho, conheceu Fernandinho Beira-Mar, um dos maiores chefões do Comando Vermelho.

Após deixar o presídio, Zeus se instalou na Muzema, na Zona Oeste do Rio, onde se firmou como líder local, expulsando milicianos da região e instaurando regras do Comando Vermelho.

De acordo com investigações da polícia, Zeus mantém planilhas detalhadas de gastos com armamentos. Entre fevereiro e março de 2023, ele teria investido mais de R$ 5 milhões em arsenal pesado, incluindo um fuzil calibre .50, capaz de derrubar aeronaves, avaliado em R$ 240 mil. A lista incluía também fuzis .762 e .556, milhares de munições para AK-47 e carregadores de AR-15 — só esses últimos somaram quase R$ 190 mil.

A rede de abastecimento de Zeus envolvia fornecedores com fachada legal, como Eduardo Bazzana, dono de uma loja de armas e presidente de um clube de tiro em São Paulo.

8 – William Yvens da Silva, o Coelhão

Coelhão é apontado como o braço direito de Lacoste | Reprodução

William Yvens da Silva Rios, o Coelhão, domina o tráfico no Complexo da Serrinha, em Madureira, Zona Norte do Rio. Ele é apontado como o braço direito do chefe Wallace Britto Trindade, o Lacoste, e vem acumulando poder e influência dentro do Terceiro Comando Puro (TCP).

Segundo o Portal de Procurados, quando foi solto em 2021, após cinco anos de prisão, Coelhão foi recebido com uma grande celebração no morro: rajadas de tiros e fogos de artifício. Desde então, ele reassumiu seu posto à frente de pontos de venda de drogas e ampliou sua atuação, liderando ações ofensivas contra comunidades rivais, como os morros do Cajueiro e Congonhas, dominados pelo Comando Vermelho.

Em outubro do ano passado, segundo investigações da Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA), seus capangas teriam participado da invasão ao Morro do Fubá, em Cascadura, que terminou com o assassinato e esquartejamento de um jovem morador da comunidade. O vídeo do crime, divulgado nas redes sociais, irritou o chefão.

“Como um vídeo desse vai vazar, mano? Como vai, como, explanar um vídeo desses, mano? Cortando os outros, mano. Pô, tá de brincadeira, mano”, disse ele em represália a atitude dos traficantes.

Coelhão e Lacoste também implementaram tecnologia a serviço do crime. Os ‘olheiros’ do tráfico foram instruídos a usar drones para monitorar o movimento da Polícia Militar, dificultando as operações policiais na região.

A ficha criminal de Coelhão inclui três mandados de prisão em aberto e acusações que vão de assaltos a tortura.

9 – Jorge Luiz Moura Barbosa, o Alvarenga

Alvarenga adota um perfil discreto | Reprodução

Jorge Luiz Moura Barbosa, conhecido como Alvarenga, comanda há mais de uma década o comércio de drogas na favela Parque União, no Complexo da Maré, uma das áreas mais estratégicas da facção rival, o Terceiro Comando Puro (TCP). Mesmo com 86 anotações criminais, sete mandados de prisão em aberto e nove processos na Justiça, nunca foi preso.

Ao contrário da ostentação típica de muitos líderes do tráfico, Alvarenga adota um perfil discreto. É conhecido por circular pela comunidade sem camisa, de bermuda e chinelo, sem exibir joias ou carros importados.

É dele a assinatura por trás dos grandes bailes funks do Parque União, que movimentam a noite da comunidade e geram mais lucros para o Comando Vermelho, com a venda de drogas. 

Conforme o Portal de Procurado, para manter o sigilo de onde ele mora, Alvarenga pede aos seguranças que o deixem a metros de distância da casa e manda esvaziar a rua: enquanto ele entra, ninguém pode ficar nas janelas para ver qual é o imóvel.

10 – Danilo Dias Lima, o Tandera

Tandera um dos milicianos mais procurados do Rio de Janeiro | Reprodução

Danilo Dias Lima, o Tandera, é hoje um dos milicianos mais procurados do Rio de Janeiro. Mesmo com uma extensa ficha criminal, que inclui acusações de homicídio, sequestro, tortura, extorsão e lavagem de dinheiro, só foi preso duas vezes por porte ilegal de armas.

Na segunda vez em que foi detido, em 2015, o miliciano fugiu da prisão e nunca mais foi capturado.

Entre 2016 e 2020, liderou com Ecko a expansão da milícia ‘Liga da Justiça’ para a Baixada Fluminense, criando ‘franquias’ em cidades como Nova Iguaçu, Seropédica e Itaguaí. Na região, o grupo ficou conhecido por práticas brutais como decapitações e torturas.

Com a morte de Ecko em 2021, passou a disputar o espólio da Zona Oeste com Zinho, irmão do miliciano morto. Hoje, a liderança da antiga milícia de Zinho está com Naval, que comanda Antares, Aço e outras comunidades em Santa Cruz.

Tandera também se envolveu em um esquema de lavagem de dinheiro, usando empresas de fachada e investimentos imobiliários para movimentar recursos ilícitos. Em 2020, tentou influenciar eleições municipais na Baixada, financiando candidatos que pudessem favorecer seus negócios. O plano, no entanto, fracassou.

Por Ultima Hora em 02/06/2025

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