Na Vila dos Pescadores de Ajuruteua, localizada em Bragança, no nordeste do Pará, a alfabetização de crianças e adolescentes é realizada de maneira inovadora. Em um galpão construído sobre palafitas para evitar inundações, os alunos aprendem a associar letras do alfabeto ao seu ecossistema. Assim, o “R” referencia rancho, o “O” se conecta a ostra, enquanto o “Z” simboliza zangão e o “M” é para mangue, um ambiente vital para as famílias da região.
Experiências práticas na alfabetização
O projeto AlfaMangue, parte da iniciativa Mangues da Amazônia, utiliza métodos que transcendem a escrita tradicional. A professora Pâmela Gonsalves destaca que a abordagem envolve a fala, desenhos e jogos, permitindo que os alunos reconheçam letras através de suas vivências diárias. Ao todo, cerca de 25 crianças são beneficiadas nesse reforço, que ocorre fora do horário escolar regular.
Educação em áreas desafiadoras
A comunidade de Ajuruteua não possui uma escola local, obrigando os estudantes a irem até a Vila do Bonifácio, que é frequentemente inacessível devido às marés. Essa realidade impacta significativamente a presença das crianças nas aulas, dificultando o aprendizado e a prática da escrita.
A importância do aprendizado
O projeto AlfaMangue não se limita à alfabetização. Além do reflorestamento e do mapeamento das espécies do manguezal, enfoca a educação ambiental. Ele atende cerca de 1.600 crianças em quatro municípios, promovendo o engajamento comunitário e a valorização do ecossistema local.
“Usamos o manguezal como nossa sala de aula”, explica Pâmela, ressaltando a relevância da alfabetização na transformação da realidade das crianças. O reconhecimento da importância do aprendizado é evidente entre os alunos, como observa a jovem Hévelly, que já sonha em ser pilota de avião.
Perspectivas futuras
O projeto também envolve adultos, como Rutelene Sousa, que se motivou a retomar os estudos após ver os progressos da filha. Em uma outra comunidade, Edite Ribeiro da Silva, aos 61 anos, está prestes a se formar em educação do campo, evidenciando que a busca por conhecimento pode ser um caminho para melhor realizar suas atividades e cuidar do manguezal.
Edite enfatiza a necessidade de educar a comunidade sobre a importância do manguezal, um ecossistema fundamental para sua sobrevivência e modo de vida. Através de suas ações, ela demonstra que a educação é uma ferramenta poderosa para a conscientização e fortalecimento dos direitos da comunidade.
No contexto do projeto Mangues da Amazônia, a alfabetização e a educação ambiental caminham juntas, promovendo não só a leitura e a escrita, mas também uma profunda conexão com o ecossistema local.