Tradição histórica e crise atual
Vila Velha, o município mais antigo do Espírito Santo, completou 490 anos nesta semana. Fundada em 1535, a cidade possui grande relevância histórica para o Brasil, sendo um dos primeiros núcleos de colonização portuguesa no país. Mas, para muitos moradores, o momento está longe de ser festivo. O sentimento predominante é de frustração diante de uma realidade marcada por problemas estruturais e pela sensação de abandono por parte do poder público.
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Segurança pública em colapso
A violência urbana se tornou parte do cotidiano. Em bairros como Terra Vermelha, Cobilândia e Glória, relatos de assaltos, tiroteios e presença de facções criminosas são constantes. A ausência de policiamento e a falta de estratégias eficazes de segurança agravam o cenário. “A gente vive com medo. Não temos paz nem dentro de casa”, desabafa uma moradora da região de São Torquato.
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Saúde precária e população desassistida
O sistema de saúde pública é outro ponto crítico. As unidades básicas de saúde enfrentam superlotação, falta de profissionais e escassez de medicamentos. A dificuldade para marcar consultas e exames tem sido uma das principais reclamações. Em alguns casos, moradores aguardam por meses por procedimentos simples. “A saúde aqui virou sorte. Se for atendido, é milagre”, afirma um morador da região de Itapuã.
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Educação em crise e professores desvalorizados
A crise também atinge a rede municipal de ensino. O Ministério Público Federal notificou a Prefeitura de Vila Velha por descumprimento da Lei do Piso Salarial Nacional do Magistério, evidenciando a desvalorização dos educadores. Além disso, escolas com infraestrutura precária, falta de materiais didáticos e turmas superlotadas dificultam o aprendizado. “É triste ver que o futuro das nossas crianças está sendo negligenciado”, diz uma professora da rede municipal.
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Comemorar o quê?
Diante desse cenário, cresce o questionamento: há mesmo o que comemorar? Para muitos moradores, os 490 anos de Vila Velha representam mais um ano de promessas não cumpridas, de direitos negados e de ausência de políticas públicas eficazes. “A cidade é linda, tem história, mas isso não enche a barriga de ninguém. Precisamos de ações reais”, resume um líder comunitário de Terra Vermelha.
Enquanto o poder público promove eventos simbólicos, parte da população pede urgência na resolução dos problemas que afetam diretamente a qualidade de vida no município. A história de Vila Velha é motivo de orgulho, mas o presente exige compromisso — e o futuro, responsabilidade.