As denúncias não são novas e tampouco isoladas. Um caso registrado pela própria denunciante, que filmou um veículo oficial abandonando animais em via pública, escancara a dimensão do problema. Ela acionou o Ministério Público, a Prefeitura e outros órgãos competentes, registrou boletim de ocorrência e formalizou pedido de investigação.
Apesar disso, nenhum responsável foi identificado ou punido até agora.
Enquanto o processo segue parado, os animais abandonados foram acolhidos exclusivamente por voluntários, que arcam sozinhos com custos de alimentação, moradia, vacinação e medicamentos. Para eles, a legislação federal que tipifica abandono e maus-tratos como crime simplesmente não é aplicada de forma concreta no município.
Contratos milionários, serviço mínimo.
A crítica mais recorrente entre defensores da causa animal é a distância entre o que está assinado em contratos públicos e o que realmente chega às ruas. Apesar de Vila Velha manter contratos de valores significativos para atendimento animal, o serviço oferecido é descrito como insuficiente.
Um exemplo emblemático é a própria Unidade de Vigilância de Zoonoses, que, mesmo com diversos contratos ativos, dispõe de apenas um único veículo para atender toda a cidade.
Além disso, há questionamentos sobre a gestão interna da pasta. A servidora que atuava como fiscal dos contratos — incluindo compras de alto valor, como leitores de chip e ração, esta última frequentemente criticada por protetores devido à baixa qualidade — foi exonerada pela Prefeitura. Pouco tempo depois, foi nomeada por um deputado federal que se apresenta como defensor da causa animal.
O episódio levantou suspeitas e reforçou a cobrança por transparência na gestão dos recursos públicos.
Ativistas cobram coerência e atuação constante
Com a repercussão das denúncias, novas figuras públicas passaram a se manifestar em defesa dos animais. No entanto, protetores questionam a ausência dessas mesmas vozes nos anos anteriores, quando os problemas já eram amplamente conhecidos por quem atua diariamente na causa.
Segundo eles, discursos recentes soam tardios e insuficientes diante da gravidade do cenário.
População exige respostas
As denúncias reacendem uma série de questionamentos que o poder público municipal ainda não esclareceu:
- Por que processos de maus-tratos envolvendo veículos oficiais não avançam?
- Como contratos de alto valor resultam em estrutura tão limitada?
- Quais os critérios para nomeações de servidores responsáveis pela fiscalização?
- Por que a qualidade dos insumos fornecidos, como ração, não condiz com o valor investido?
- Que ações concretas a gestão municipal pretende adotar para reverter o quadro?
Para protetores e voluntários, a situação ultrapassa o limite do tolerável. “Os animais não precisam de discursos. Precisam de ações reais, contínuas e transparentes”, afirmam.
A cobrança é clara: Vila Velha precisa assumir, de forma séria e responsável, a proteção animal como política pública — e não como pauta secundária ou sazonal.
Porque, como reforçam aqueles que convivem com essa realidade diariamente, a verdade pode até ser ignorada por algum tempo — mas nunca desaparece.


